Momentos em Palavras

Desabafar de mais um Outono
Marcos Vinicius de Moraes

Um semblante triste,
Queria ele ter algum que insiste,
Enquanto trilha no vale do desencanto,
Uma fina chuva caía,
sobre suas mãos já em queda, em pranto.
E ficava mais fria, isolava-o em um canto

Ele tentou mostrar o que sentiu, em verdade.
Enquanto derramava lágrimas que confundiam com a tempestade
E ardiam na pele com a marca do que viu, certamente.
E gritava por dentro, soluçava pela mente.

Queria fugir, mas precisava daquela metade,
Sonhava sorrir, sonhava sem maldade.
Queria perder o medo, encarar o que vivia,
E voltava sempre ao começo, as vezes muito tarde,
Tarde mais do que devia.

Sofrer nunca lhe foi opção,
Mas qual a graça da vida sem risco.
Pergunto, qual o sentido então?

É como quando no olho cai um cisco,
Ou quando fazem na sua obra prima um rabisco,
Te pisam enquanto não pode nem andar,
Ou como aquela força que te impede levantar.

Se sofrer nunca foi uma opção,
O risco é como viver,
Estar inerte é morrer então.

O idioma que falo não é diferente,
Meu sucinto desespero, minha fala eloqüente.
Te fiz um sonho, te fiz um amor,
Te fiz tudo que um apaixonado diz,
Cansado, enfadonho, temi pela dor,
E quis ao meu lado, com o fim que for.
Apenas quis.

Aquelas palavras que confortaram,
Hoje causam grave ferida.
Em celas escuras me jogaram, julgaram,
Abafaram a chama que iluminavam a vida.

Surpresas fiz, meus próprios passos apaguei.
De planos logo desfiz, ouvi o que doía mas não escutei.
Poderia eu deixar esse rosto infeliz.
Tentei, tentei, e outra vez tentei.
Mas acho que não desistirei.

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